É uma tarde quente e abafada. Maria* sai de casa, deixando a filha de quase dois anos dormindo aos cuidados da mãe. Ela caminha com pressa sobre as madeiras que conectam as casas de palafitas da Vila dos Pescadores em Cubatão/São Paulo.
Ansiosa para chegar ao Exército de Salvação para o encontro mensal com outras 19 adolescentes grávidas e jovens mães, hoje essas duas horas são só dela. Em 2010 foi iniciado o Projeto FloreSer com o objetivo de atuar com jovens mães e adolescentes grávidas. Passando por algumas mudanças no último ano, em agosto de 2023 o Projeto começou a atuar na Vila dos Pescadores, onde o Exército de Salvação atua há 30 anos na comunidade através de ações sócio educativas com crianças e adolescentes.
Ingrid Martiniano, Psicóloga do Departamento Social do Exército de Salvação que coordena o projeto, explica que através de oficinas, palestras, atividades práticas e visitas domiciliares, o objetivo é oferecer às participantes informações sobre seus direitos, como acesso à saúde, educação e trabalho. “Ajudamos a conscientizá-las sobre a importância de cumprir seus deveres como cidadãs”, afirma a Ingrid. “Buscamos oferecer um ambiente acolhedor e elevar a autonomia e a independência, capacitando-as para enfrentar os desafios que surgem, oferecendo suporte emocional e psicológico, já que a maternidade precoce pode gerar impacto significativo na vida dessas jovens”.
O projeto FloreSer também se dedica a fazer palestras e atividades de conscientização contra a violência em São Paulo/SP, com crianças e adolescentes em Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), mais conhecidos como os Centros para Crianças e Adolescentes (CCA’s), e escolas. “Essas palestras abordam temas como a importância do respeito, da igualdade de gênero, da proteção dos direitos das crianças e adolescentes e prevenção da violência sexual” explica a Ingrid. “O objetivo é promover uma cultura de respeito e prevenção desde cedo, capacitando esses jovens para que possam reconhecer situações de violência e buscar ajuda adequada”.
No final do encontro, Maria compartilha os impactos do FloreSer. Antes de ingressar no projeto, ela se sentia desamparada e desinformada sobre seus direitos. Após receber orientações e apoio conseguiu retomar seus estudos, além de ter acesso a serviços de saúde para ela e sua filha: “Tem sido muito bom para mim. Tem melhorado minha autoestima e me ajudado psicologicamente. Com dicas recebidas sobre diferentes coisas, tenho aprendido muito sobre mim e sobre como ajudar a minha filha".
*o nome foi trocado para guardar a identidade.
Artigo originalmente publicado na revista RUMO (Mar/Abr 24)
Comments